ÚLTIMAS »

Zé Netto comenta os versos de Erika Bataglia













Por José Leite Netto

“O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas”
Jorge Luis Borges

Não há inquietação?! A poética surge através do sonho... Portanto, dizer que não há inquietação na poesia de Erika Bataglia seria suprimir a emoção que se faz de música aos ouvidos de quem a lê. Rodeando e sobrevoando o imaginário do leitor, conduzindo-nos à cadência de cada verso através da imagética dos signos, compondo um ser que se seduz e nos envolve de sombras para o desconhecido, refúgio de sentimentos. É nítida e sincera a objetivação dos versos:

“Ah, quem me dera ter-te / Para além de meus sonhos / Para além de minhas posses / Para além de minha vida.”

É no corpo onde o poema fez morada, e com sensualidade Bataglia vai esculpindo o seu universo de palavras enquanto sua alma se conflui ao verso, ao tempo em que, mesmo firme, sente-se vítima desse ser que na penumbra a rodeia. Como nos versos 5, 6 e 7, reclama:

“Meu corpo no teu fez morada / longe de ti sou estrada escura / vindo de longe, indo ao nada.”

Para desfechar mais uma vez com um verso e voltar à imagem central do poema envolto na sombra:

“Hoje sou só sombra. Mais nada.”

Existe na poética de Bataglia, como em toda poesia dos bons nomes da literatura, o condensar do som, do som ao silêncio, ao silêncio do som. A voz do nada, que mata o exterior e o reconstrói no tempo e no espaço, versificado nas entranhas de cada estrofe a verve que ilumina seus abismos cíclicos e, dela, brotam do chão como a força das saxífragas que rompem o asfalto e que em silêncio nos fala:

“De ti, o calor do corpo altivo / que me envolve e me domina / claro corpo em trajes nobres e pés descalços tocando a vida. // teus braços me enlaçam / força e forma // (...) // que nos mantém presos ao chão e nos proporcionam imagens tão belas do firmamento eterno (...).”

Nota-se, nestes versos que colhi de seu site – Bruta flor do querer -, que Erika Bataglia toma-se de liberdade e voa, abandonando a imagem do ser de sombra e entregando-se ao desejo, como se nos chamasse para ver o sol.

Sei que escrever sobre arte (seja lá qual manifestação seja) se constitui de um erro ou abuso. Pois aquele que critica tem a absurda mania de suprimir a interpretação alheia (daqueles menos atentos). Sabendo disso, deixo aqui estes versos, virtualmente colhidos no belo jardim desta poeta que surge da gema dos novos dias.

Em ti

Erika Bataglia

Possuías em ti a eternidade
dos olhos doces e belos
dos lábios quentes e ricos
Do corpo de brancura tímida

Possuías em ti a verdade
Do abraço, da vontade
Do carinho, da saudade
Invisível aos meus olhos nus

Possuías em ti a vontade
Intensa e imensa do amor rendido
Do liame frágil
Do sentir sozinho

Possuías em ti a certeza
De minhas palavras loucas
De meus sofridos olhares
Profundos e incorretos

Mas, do que possuías
Apesar da aparência firme
De sentimento tão forte
Ao menor tremor rugia

Já não possuías
Certezas, vontades,
Só o que ficava
Era a raiva sombria.
Imprudente e tola
Que nada via.

Cadastre seu e-mail aqui para receber nossas notícias automaticamente ou clique aqui para assinar nosso feed.

0 comentários para Zé Netto comenta os versos de Erika Bataglia

Deixe um comentário


Informações da cidade
Institucional
Informações úteis

+ POPULARES

2010 Solonópole. - Desenvolvido por milvinil