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Zoo ex-vocalista da Jumenta Parida visita o passado e o futuro no Mafuá



Por Antonio Filho

Alô, Alô malungueir@s de todos os sons, abram alas e forrem o chão de palmas que o animal sagrado do sertão vai passar! Aquele no qual Nossosenhorjesuscristim mijou no cangote enquanto era levado em fuga de Herodes.

Zoo, ex-vocalista da Jumenta Parida a banda cearense de rock mais popular dos últimos 20 anos, emocionado com a matéria que publicamos ontem aqui no Mafuá do Malungo, concedeu-nos uma longa e fundamental entrevista na qual visitamos o passado e o futuro.

O eterno menino cibernético, falou do começo da banda e suas dificuldades, a popularidade alcançada, da agressividade das críticas, o fim de 8 anos de atividades, a influência que a Jumenta Parida deixou na nova geração de bandas que re-interpretam a proposta estética da época, o que o antigos integrantes estão fazendo, e sobre os planos para o presente e para o futuro. A entrevista transcorreu num total clima de descontração em que o músico se mostrou saudoso do antigo projeto e esperançoso para com o que virá. Certamente ainda dançaremos muito com o som e o carisma de Luiz Aberto, o Zoo.

Portanto, fiquem abaixo com a entrevista e curtam tanto o quanto esse malungueiro aqui curtiu.

Antonio Filho
Zoo, você não tem ideia da alegria que o Mafuá do Malungo tem em lhe receber para essa entrevista. O pessoal daqui sempre gostou muito do seu trabalho desde a época da Jumenta Parida.

Zoo
Pô, véi... Fico feliz pra cara*$% por isso!

Antonio Filho
Ontem postamos no Mafuá do Malungo uma matéria sobre a Feira do Jiriquiti e a Jumenta Parida que deu muito o que falar, a Jumenta Parida também deu muito pano pra manga. Na nossa opinião a JP foi um fenômeno de popularidade único nos últimos 20 anos, portanto, conta um pouco sobre aquela experiência e sobre aquele momento. Foi bom enquanto durou ou poderia ter durado mais e ser ainda melhor?

Zoo
Quando “o” Jumenta Parida começou, eu tinha 17 anos. Tocamos por 8 anos, durante esse tempo, fizemos muitos shows aqui em Fortaleza, no interior do estado do Ceará e também em alguns estados vizinhos como Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão. Em 2003, lançamos um disco homônimo e conseguimos construir um alicerce bem legal aqui na capital. Tanto que, ainda hoje, 6 anos depois do fim da banda, toda vez que eu saio na noite, sempre encontro pessoas que querem falar sobre a banda. Algumas vem lamentar o fim das atividades, outras perguntam sobre uma possível volta, sempre tem alguém que vem comentar. Fiz muitas amizades por conta do Jumenta Parida. Muitas mesmo!

A vida de qualquer pessoa é feita de ciclos, e, com a banda não poderia ser diferente. Eu acredito que o ciclo da Jumenta Parida se encerrou. Muitas coisas aconteceram nesses 8 anos, coisas maravilhosas, bem como coisas ruins também. Tivemos conflitos internos que acabaram abalando nossa amizade e isso nos fez perder força até que chegou uma hora que o tesão de fazer aquele som acabou... Aí, foi melhor encerrar as atividades. Hoje somos todos amigos, todas as arestas foram aparadas. Fizemos até 2 revivals, um no Forcaos de 2008 e outro no Ponto CE de 2009. E não descartamos a possibilidade de reunir os elementos pra fazer outros revivals. Sinceramente, eu sinto saudade, mas acho que o recado foi dado.

Antonio Filho
E nós aqui do Mafuá do Malungo também sentimos saudades e esperamos por novos revivals. Mas, sobre aquele terceiro Ceará Music? Aquilo foi uma loucura, a banda parecia em transe e o público enlouquecido. Lembra daquilo?

Zoo
Cara... Aquele show foi foda! Ainda bem que foi documentado, pelo menos aqueles poucos minutos que circulam hoje no Youtube. Aquele foi o melhor momento da banda, tínhamos lançado o disco naquele ano
e, naquele show, as pessoas cantavam as músicas e entraram na mesma “vibe” da gente. Eu ainda hoje me emociono vendo aquilo!...

O Jumenta Parida foi uma idéia bem despretensiosa, mas que ainda hoje reverbera. Olha, digo isso com toda humildade desse mundo!... Era muita “vibe” naquele tempo, muita vontade de fazer som!

Antonio Filho
Lembro que, aqui em Fortaleza, nas minha andanças pelo centro da cidade, cheguei a encontrar CD pirata da Jumenta Parida nos camelôs! Confesso que até comprei um. Hehehe! Vocês sabiam disso?

Zoo
Eu soube na época e fiquei feliz pra cara*$%! Isso é a maior prova de reconhecimento de um trabalho, pode ter certeza!

Antonio Filho
E o começo? As calouradas, o Centro Cultural Dragão do Mar, a Feira do Jiriquiti eram espaços muito importantes na época para uma banda começar, não?

Zoo
A cena era outra naquela época... As pessoas tinham curiosidade pra conhecer o novo. Então, tocar nesses eventos foi fundamental pra mostrar o trabalho do Jumenta Parida pro grande público local. Numa dessas, fizemos um evento do Movimento Cabaçal na praça principal do Centro Cultural Dragão do Mar pra 10.000 pessoas!

Mas tocar nos eventos menores foi o nosso trampolim pros festivais maiores. Na maioria das vezes nem tinha cachê, nem uma ajuda de custo sequer, mas a gente ia assim mesmo.

Antonio Filho
E agora, passados alguns anos, já munidos de maturidade, como vocês analisam o fantasma Raimundos. As críticas, na época, era violentas, não?

Zoo
Nós nunca negamos a influência que tínhamos do Raimundos. Mesmo em Brasília, eles mostraram que era possível fazer e tocar rock com sotaque nordestino, sacou? E nós absorvemos essa influência, principalmente. No entanto, é claro que em certas músicas isso era mais evidente, principalmente nas primeiras composições. Mas, a principal diferença entre nós e eles é que as temáticas das letras eram bem diferentes. Além disso, usávamos e abusávamos de instrumentos regionais como zabumba, pandeiro e vários efeitos de percussão.

Além do Raimundos, nós fomos muito influenciados por algumas bandas do Mangue Beat como Jorge Cabeleira, Chico Science e Mundo Livre S/A. E várias outras, como Rage Against the Machine... Quê mais?... Não lembro agora... Mas a comparação com Raimundos nunca me incomodou de verdade.

Antonio Filho
Jumenta Parida, Cidadão Instigado, Soul Zé, Dona Zefinha, Dr. Raiz e Idson Ricart foram bandas e músicos que abriram caminho para a cena autoral cearense pós-Massafeira e Pessoal do Ceará. Como você vê essa nova safra de bandas como Maracatu Vigna Vulgaris, Eletrocactus, Jácio Cidade e outras?

Zoo
Todas tem trabalhos bem diversificados, com um pé no regional e outro no universal. Tive a oportunidade de ver o show de lançamento do CD da Eletrocactus e gostei bastante. Falam muito bem do Jácio Cidade, mas eu ainda não tive oportunidade de ouvir. É até uma boa pedida para agora, vou tentar baixar uns sons dele aqui. As outras ainda não conheço, mas todos tem seu valor e merecem nosso respeito.

Antonio Filho
E agora, o Zoo e os outros integrantes da Jumenta Parida, como estão, o que andam fazendo, o que estão planejando pro futuro?

Zoo
Eu continuo tocando, de vez em quando com Alegoria da Caverna e Transacionais. O André trabalha com publicidade e toca na The Singles. O Dângelo tem “trocentas” bandas: Obskure, Transacionais, Alegoria (da Caverna), Facada, Caverna do Roque. Anax e Breno não estão tocando com ninguém no momento, estão focados em trabalhos extra-música.

E os outros que também passaram pela família: o Jonnathan Doll tocou com a gente nos primeiros ensaios; o Daniel Cobaia, que tocou percussão, hoje canta no Diamante Cor de Rosa; o Jolson, que substituiu o Anax, toca no Alegoria, Transacionais e Obskure; e o Cassiano, que substituiu o Breno, está morando na Holanda, casado e cheio de filhos.

Antonio Filho
Na época vocês eram muito jovens, você mesmo diz que começou com 17 anos.  A relação música e estudo atrapalhou o processo da banda?

Zoo
Eu prefiro dizer que a banda atrapalhou os estudos... Heheheheheheeheheh! Brincadeira...

Cara, teve um momento em que eu saí de casa e tive de trabalhar, isso foi o que mais me atrapalhou, pois uma banda como o Jumenta Parida exige foco.

Hoje estou no processo inverso, estou largando as atividades paralelas pra me dedicar só à música. Estou amadurecendo um projeto autoral que deve ser lançado em breve.

Antonio Filho
Espero que você avise o Mafuá do Malungo.

Zoo
Com certeza avisarei, mas num momento mais propício. A ideia ainda é um embrião, porém está fluindo

Antonio Filho
Quer falar mais um pouco sobre esse novo projeto?

Zoo
Por enquanto não... Prefiro falar quando estiver mais concreto, estou me organizando pra isso. Vou voltar a estudar música e terei tempo pra amadurecer a ideia.

Antonio Filho
Mas a matriz estética nordestina continua?

Zoo
Claro! Vai ser um esquema mais dançante, mas vou preservar vocais agressivos e outros mais suaves. No entanto, o beat vai ser mais dançante do que hardcore. Na verdade, não vai ser hc, não tem nada de hc.

Antonio Filho
Essa coisa de música de pista tem sido injustamente criticada pelo pessoal que se diz da MPC (música popular cearense). Adotam um preciosismo por vezes exagerado, por vezes afetado. No entanto, se dermos uma olhada para trás, Wilson Simonal e sua Pilantragem, o Mangue Beat encabeçado por Chico Science & NZ nunca abriram mão da qualidade textual e musical de suas canções em função de um apelo mais popular e dançante. Aliás, os dois, Simonal e Science, em épocas diferentes ocuparam um espaço exclusivo de bandas estrangeiras e sempre carente de novidade e qualidade que são as festas, boates e FM's. Como você vê isso e como você vai lidar com isso nessa nova fase?

Zoo
Eu penso que todos os que se expõem de alguma forma estão sujeitos a críticas. De uns 10 anos pra cá eu ouvi muita música brasileira setentista, Tom Zé, Sérgio Sampaio, Gil. Também ouvi muita coisa contemporânea. Já estou compondo algumas coisas e procurando parceiros pra fazer os arranjos. Vou tentar lidar com isso da melhor maneira possível. E que venham as críticas, tem besteira não... Eu não gosto é de saudosismo exagerado.

Mas o que você quer dizer com música de pista?

Antonio Filho
A música dançante, a música que esquenta o clima nas pistas das boates e põe o povo pra se divertir.

Zoo
É exatamente esse povo que eu quero atingir, mas com um som autoral. Sei que a missão é complicada, porém estou disposto a ver qual é.

Antonio Filho
Zoo. Que apelido esquisito, não?

Zoo
Hehehehehe! Isso é coisa do meu tempo de moleque. Havia um vizinho que tinha problema na dicção que o fazia trocar algumas letras. Então ele me chamava de Zuiz e de Zuiz foi pra Zu, e, depois pra Zoo. Tinha 9 anos quando fui “batizado” novamente e carrego esse apelido até hoje. E assim, hoje, Luiz Alberto Zoo, no entanto, a maioria das pessoas me conhece por Zoo.

Antonio Filho
Zoo, estamos no fim da nossa entrevista e, como sempre, perguntamos aqui no Mafuá do Malungo qual sua mensagem para os que fazem, para os que leem e para o próprio Mafuá do Malungo?

Zoo
Antes de tudo eu agradeço de coração a oportunidade de estar aqui falando sobre o passado e o futuro! Deixo um abraço a todos aí do Mafuá. E espero que nossos próximos projetos sejam bem sucedidos como foi a Jumenta Parida. Um abraço também pra toda a galera que teve interesse de ler a entrevista no blog.

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4 comentários para Zoo ex-vocalista da Jumenta Parida visita o passado e o futuro no Mafuá

  1. nossa muito bacana mesmo poder relembrar a trajetória da JUMENTA ...um som como poucos..uma letra com identidade própria..fui fã de carteirinha tenho em ksa o CD sem pirata viu malungo rsrs..sorte ai TIO zoo!

  2. Antônio, estás na profissão errada, por favor, tone-se definitivamente um entrevistador! ^_^
    amei a entrevista; bem focada, respeitando a voz do entrevistado e ao memso tempo infomando / direcionando para um público ainda desconhecedor do entrevistado em questão.
    Iupi!

  3. Parabéns Antonio Filho...
    É bom poder relembrar não só o trabalho do Jumenta como também todo o cenário daqueles anos 90 e 2000, essenciais para a construção da cena que se mostra hoje, não só na música, como nas artes e no comportamento da cidade.
    Parabéns Zoo pela figaraça que vc é e pelo artista que particularmente sempre me inspirou. Lembro demais daquele ConSertão em Mossoró (RN) onde tive a oportunidade de tocar percussão com vocês. O Jumenta era a banda mais esperada do festival, mesmo sendo de outro estado. Lembro com alegria também todos os shows que fizemos juntos, vocês no Jumenta, eu na Kohbaia, as meninas do Dress, ForCaos, Casarão do Rock, Itapipoca, minha hérnia que estorou, tudo mais.
    Um grande abraço Zuizalberto.
    Adorei o blog e as crônicas.
    Fabiano de Cristo

  4. Show de bola ! Sou fã denais do JP. Estava no show do Movimento Cabaçal

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