Fabiana Guimarães Concede Entrevista ao Mafuá do Malungo

Alô, Alô, malungueir@s de todos cantos do Brasil e do mundo. Não se assustem! É do mundo, sim! Temos registro de acessos até na Croácia. Ó o Mafuá do Malungo aí, gente!

Mas não é esse o verdadeiro motivo de nossa apoteótica postagem. A grande verdade é que acabamos de editar a primeira entrevista da história do Mafuá do Malungo. Realmente, vimos anunciando aqui que o nosso Mafuá teria duas novidades. Uma seria a mudança de cara, uma cara própria desenhada pelo grande amigo Marcílio Costa com a ajuda do também grande amigo David Aragão. A outra seria a publicação de nossa primeira entrevista. A primeira novidade terá que ficar para a próxima semana, ou para a primeira semana de janeiro, talvez assim seja até melhor, pois nada mais positivo que iniciar um novo ano de cara e alma nova.

No entanto, a segunda novidade, a prometida entrevista com a escritora Fabiana Guimarães, apesar do pequeno atraso, realiza-se nesse momento. Depois de quase sete horas ininterruptas de edição, pois a entrevista foi realizada por MSN, coisa que me agradou muitíssimo. Pois o diálogo adquiriu um forte teor de informalidade, resultando assim em uma espécie de conversa entre amigos. Ah! Perfeito! E não é isso mesmo que o Mafuá do Malungo se propõe a ser?  Um encontro, um casinha de amigos?



Pois então, findemos com as, embora agradabilíssimas, digressões e saibamos mais sobre a escritora Fabiana Guimarães. Essa autora de livros adultos e infantis, cujo primeiro livro publicado foi o Mar Violeta, Violeta Mar pelas edições UFC. Ela é autora também de um livro infantil que não pode faltar na biblioteca de nenhuma criança leitora, O Senhor do Tempo e Outras Estórias, lançado, ainda este ano, em 2010, na Bienal Internacional do Livro do Ceará pelas Edições Paulinas.

Agora malungemos com a nossa entrevistada:

Antonio Filho
O Mafuá percebeu que nos seus primeiros livros você assinava Fabiana Guimarães Rocha e depois passou a assinar apenas Fabiana Guimarães. São nomes diferentes ou são a mesma coisa? O cada um significa uma coisa diversa?

Fabiana Guimarães
São iguais. A diferença é que um é mais preguiçoso e não diz o Rocha. Comecei com Fabiana Guimarães Rocha, mas aos poucos foi ficando Fabiana Guimarães, naturalmente, foi ficando assim.

Antonio Filho
E você prefere assim, um nome duplo simples?

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
Você já publicou um livro de poemas o Mar Violeta, Violeta Mar.

Fabiana Guimarães
Sim, meu primeiro livro para adultos.

Antonio Filho
E depois veio sucessivamente publicando livros para o público infantil.

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
Foram vários livros: O Menino e o Tempo.

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
Seu Miguelito e a Mala de Bonecos.

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
Você gostaria de falar um pouco sobre essas duas facetas da escritora Fabiana Guimarães, a que escreve livros para adultos e para crianças?

Fabiana Guimarães
Gostaria sim. Comecei a escrever para adultos, mas sempre tive o sonho de escrever para crianças.

Antonio Filho
E como o sonho está se realizando?

Fabiana Guimarães
Bem, à medida que fui me reconciliando, curando a criança divina dentro de mim, fui conseguindo escrever pra crianças.

Antonio Filho
Como assim, curando a criança dentro de você? Há ou havia uma criança doente dentro da Fabiana Guimarães?

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
Que criança é essa?

Fabiana Guimarães
Uma criança que havia sido reprimida na sua espontaneidade, naturalidade, que nela  foram impostas muitas culpas por ter sido educada por uma família tradicional e fortemente católica. Tudo isso feriu minha criança interior que, aos pouco, fui curando-a, reencontrando-a. Aí, sim, a literatura infantil fluiu em mim. E após a cura das feridas dessas criança, como ficou essa literatura? Ficou possível de acontecer, pois antes disso não era.

Antonio Filho
E agora, após ver os textos escritos e publicados, como você vê a literatura infantil de Fabiana Guimarães?

Fabiana Guimarães
Ih! Isso é muito difícil de responder, porque é como uma mãe vê os filhos. Sou meio suspeita pra falar.

Antonio Filho
É difícil de responder, mas é possível explicar?

Fabiana Guimarães
É. Bem, vejo que estou aprendendo mais e mais, melhorando aos poucos. A cada livro sinto que melhorei um pouco mais, que alcancei um pouco mais daquilo que desejo. Enfim, é um processo infinito de aprendizado.

Antonio Filho
E sobre sua produção adulta.

Fabiana Guimarães
Sim.

Antonio Filho
O Mafuá soube que o Mar Violeta, Violeta Mar não é o único livro de poemas adultos que você já escreveu.

Fabiana Guimarães
Não, não.

Antonio Filho
Existe outro, ou outros livros? Quais são? Quer falar sobre eles?

Fabiana Guimarães
Lançarei um dos outros escritos pela Ed. Littere /SECULT através do Edital de Incentivo às Artes, em maio de 2011, na livraria cultura, dia seis de maio as 19h. O título do livros Poemas de Sopro e Pássaro. E todos os que visitam o Mafuá do Malungo estão convidados. No entanto, além desse há mais três esperando publicação, são eles: As Crisálidas, Os Sertões de Mim e Rio das Vidas. Esse é o meu processo, enquanto escrevo vários de literatura infantil, escrevo um para adultos nos intervalos.

Antonio Filho
Isso é bom porque lhe mantém a mão treinada para novos desafios.

Fabiana Guimarães
Sim, sim.

Antonio Filho
E quais são os novos desafios de Fabiana Guimarães?

Fabiana Guimarães
Escrever cada vez melhor, contatar meus leitores cada vez mais e ganhar o mundo nesse encanto de encontrar e encantar pessoas. Podendo com isso, entrar em comunhão com os seres e trocar comoções cada vez mais amplas e profundas. Para assim, tornar-me melhor e tornar melhor o mundo a partir desse contato. Com algo abstrato, sensível que é a arte.

Antonio Filho
Eita! Chegamos na arte! Quando se fala de literatura para adultos é, de certa forma, alimentada uma total liberdade criativa e conceitual. Mas, quando se fala em arte para crianças, há uma interferência de um discurso pedagógico, moralista, ético. O q você acha disso? Qual sua opção como escritora?

Fabiana Guimarães
Ih! Isso é o que torna difícil. Acho algo muito complexo, complicado. Sinto-me muitas vezes pisando em ovos, mas procuro sempre lidar com isso de forma harmoniosa e irreverente. Nem sei se isso é possível, mas tento me abstrair de tudo isso para me sentir livre e poder criar.

Antonio Filho
Então, sem querer conduzir seu discurso, mas tentando entender melhor e ajudar nos leitores do Mafuá do malungo, você opta pela arte ou pela moral? Ou melhor, o seu trabalho vem primeiro artístico e só depois de feito é que a moral, a pedagogia e a ética entram em cena?

Fabiana Guimarães
Sempre opto pela arte. Depois é que vou ajustando, vendo o que realmente tem que entrar e sair. Faço, portanto, com muito cuidado para não ficar algo forçado. Porque acho terrível quando sinto em literatura infantil algo forçado para se adequar a uma moral, a uma ética ou a um conceito pedagógico.

Antonio Filho
Fabiana, você sabe que este desorganizado blogueiro também escreve, né?

Fabiana Guimarães
Claro, claro. E muito bem!

Antonio Filho
Além de textos adultos tenho publicado livros infantis.

Fabiana Guimarães
Um grande escritor.

Antonio Filho
Obrigado pelo elogio, mas não é esta a questão. Estou dizendo isso apenas para iniciar uma nova pergunta.

Fabiana Guimarães
Certo.

Antonio Filho
Bem, é que acho esse assunto fundamental. A criança vive no mundo da interdição, isto é, nada ela pode fazer sem permissão. Ela não pode dormir tarde, ela tem que acordar cedo para ir à escola, ela tem de obedecer pais e professores. Ela tem também que ser boazinha em tudo, jogar o lixo na lixeira, não maltratar seu coleguinhas e tem que obedecer tantas regrinhas sociais. O caso é que, na opinião deste blogueiro dado à interlocução alienígena, se é que você me permite fazer uma intervenção desse tipo na sua entrevista...

Fabiana Guimarães
Sim, pode fazer.

Antonio Filho
É que a arte não deve, aliás, não precisa servir a esse papel de contenção da criança.

Fabiana Guimarães
Com certeza não!

Antonio Filho
Você não acha que são a escola e a família a dever cumprir esse papel em vez do artista?

Fabiana Guimarães
Com certeza! Esses limites devem ser dados por eles (família e escola) e não por nós. Nós, os artistas, devemos cumprir o papel da arte que é a libertação, e não o limite. A arte deve mostrar a outra margem do rio, levar além sempre. O limite é fundamental. A falta dele tem feito muitos estragos com as novas gerações. Isso é muito claro pra mim. Mas ele (o limite) não é nosso papel.

Antonio Filho
Interessante. Mas essa falta de limite que você cita, e que eu concordo, foi feito e/ou foi imposto pela arte, ou foi feito pela indústria do entretenimento?

Fabiana Guimarães
Não, não. Pela arte, não! Vejo essa falta de limite que existe hoje fruto de uma postura dos pais, pelo fato de eles terem vindo de uma geração que teve limites rígidos demais e quis fazer diferente com os filhos. Aí, o que houve foi uma ausência quase total de limite, tudo passou a ser permitido e virou desequilíbrio. Sei que os extremos sempre são nocivos, mas acho que pior do que limite de mais é limite de menos. Em ambos os casos a  arte é a redenção, pois ela mostra a outra margem e isso equilibra.

Antonio Filho
Fabiana Guimarães, uma vez disseram que a poesia residia nos seus poemas, quem disse isso?

Fabiana Guimarães
Francisco Carvalho, Caio Porfirio, Carlos D'alge, Horácio Dídimo... Ah! Lygia Bbojunga! Foi ela, lembrei agora. Adoro essa mulher, acho-a o máximo! É isso.

Antonio Filho
Lembrei de ler o prefácio do Mar Violeta, Violeta Mar, e ter lido algo muito parecido com  isso escrito pelo Francisco Carvalho.

Fabiana Guimarães
Ah! Certo.

Antonio Filho
O Mafuá do Malungo sabe que vocês são amigos.

Fabiana Guimarães
Mestre Carvalho! Soube esses dias, dito pela filha dele, que, ele lhe havia dito eu era caprichosa.

Antonio Filho
Caprichosa, por quê?

Fabiana Guimarães
A filha dele, a Taciana Carvalho, não disse o porquê, disse apenas que o Carvalho acha que eu sou caprichosa na minha escrita.

Antonio Filho
Quer falar mais sobre essa relação?

Fabiana Guimarães:
O Carvalho é alguém que amo muito! Foi o primeiro poeta que viu meu trabalho. Ele é para mim um grande referencial e marco na minha vida literária. Além do mais ele prefaciou lindamente o Mar Violeta, Violeta Mar. E o livro que vou lançar em maio, O Poemas de Sopro e Pássaro. Tenho por ele uma gratidão, admiração e carinho enormes.

Antonio Filho
Não canso de ler o prefácio do Mar Violeta, Violeta Mar.

Fabiana Guimarães
Acho uma linda prosa poética aquele prefacio.

Antonio Filho
Além do Francisco Carvalho, existe uma outra pessoa muito importante em sua trajetória como escritora. Acredito o nome mais adequado a ser citado seja nesse momento é o de Kelsen Bravos. Qual a importância do editor e amigo Kelsen Bravos em sua carreira?

Fabiana Guimarães
Ah! Kelsen Bravos é outra pessoa por quem tenho enorme carinho e gratidão, pois ele me abriu portas fundamentais para a viabilização da literatura infantil na minha vida. Foi meu primeiro editor. Primeiro ele editou o Seu Miguelito e a mala de Bonecos pela Casa do Conto, em seguida, editou O Menino e o Tempo pela coleção Prosa e Poesia do Programa alfabetização na Idade certa – PAIC, o que me abriu muitos braços de rios. Sou muitíssimo grata a ele. Kelsen Bravos também editou a Festa da Muriçoca que, em breve, será lançado também pelo PAIC. E espero que muitos outros. O fato é que isso foi também um marco, um portal de muitos caminhos.

Antonio Filho
Perfeito.

Fabiana Guimarães
Caminhos/braços de rio que me fizeram chegar em outros braços e seguir viagem. Uma viagem que  vai cada vez mais chegando em muitos outros lugares, rios, oceanos.

Antonio Filho
E kelsen Bravos foi em parte responsável por isso? Em que parte ele se insere?

Fabiana Guimarães
Claro! Ele abriu portais fundamentais, foi quem primeiro aqui no ceará viu meu  trabalho infantil

Antonio Filho
Você tem tido uma relação com a música nos últimos tempos. E acredito que a pessoa mais próxima nesse sentido tem sido o músico Luciano Albuquerque

Fabiana Guimarães
Tenho parcerias com o musico cearense Luciano Albuquerque e com o cantor e compositor gaúcho Marco Araújo.

Antonio Filho
Então fale um pouco como foi essa sua relação literária com a música.

Fabiana Guimarães
Bem, foi muito lindo. Quando pela primeira vez descobri que também poderia compor letras para musicas e, mais ainda, quando vi chegando em mim a primeira musica que veio também com melodia, A Lagartista. Achei tudo muito magico surgir em mim musica e melodia! Daí, fiquei maravilhada com essa possibilidade. Nessa ocasião ainda não conhecia Luciano Albuquerque. Depois falei pro meu amigo Antonio Filho dessa experiencia, ele que me apresentou ao Luciano Albuquerque. Depois disso, mostrei pra ele as letras que já havia escrito. Que eram A Lagartista e O Sabiá, ambas com letra e melodia daí surgiram varias outras.

Antonio Filho
Essa parceria com Luciano Albuquerque deu algum fruto como algum show ou CD?

Fabiana Guimarães
Uma ou duas de nossas musicas participou do show gente criança, e uma delas no show do grupo Primeiro Acorde

Antonio Filho
Fabiana, essa entrevista é sobre você, sobre seu trabalho e sobre a relação que você e seu trabalho estabelecem com outras pessoas. Aqui já falamos de Francisco carvalho, Kelsen Bravos e Luciano Albuquerque. Esse malungo blogueiro acredita que não pode faltar o nome de Carlos Emílio Correia Lima.

Fabiana Guimarães
Ah, sim! Meu amigo amado! Lindo! Acabei de falar com ele ao telefone. Carlinhos é um grande amor, quando ninguém me conhecia, nem ele mesmo pessoalmente. Quando eu estava vivenciando uma quase monastério e saia muito pouco do meu  sítio casulo. Conheceu o meu trabalho aqui na mangabeira e foi, segundo ele, amor à primeira leitura. Por isso, fez duas publicações de textos meus naquela linda revista dele chamada Arraia Pajeurbe. E sempre me incluía em seus movimentos culturais, mesmo antes de nos conhecermos pessoalmente.

Antonio Filho
Alguém mais?

Fabiana Guimarães
Sim. Então continuando... Porém, passados alguns anos, conheci outro amigo, muito querido e amado, que também muito me incentivou e que me proporcionou em primeiro falar de literatura em publico o que pra mim era um desafio enorme. Quando fui convidada para o pausa dramática do dragão, foi ele, o Thiago Arrais que me colocou bem próxima do Carlos Emílio. Hoje, então, Thiago e eu somos lindos amigos. Carlinhos e Thiaguinho Arrais. Os dois são super especiais e fundamentais chaves que também me abriram lindos portais. Eles dois também foram de fundamental importância para que encarasse o desafio de falar em publico. Algo que pra mim era assustador, mas hoje é puro amor.

Antonio Filho
Esse Mafuá sabe que você tem uma relação quase espiritual com Guimarães Rosa, como é isso?

Fabiana Guimarães
Hum, Guimarães Rosa é mago de muitas alquimias. Mas sabe de um segredo? Quase não consigo lê-lo... No entanto, foi Thiago Arrais que me fez adentrar na sua encantatória escrita lendo para mim os grandes sertões.

Antonio Filho
E qual é o impedimento para que você possa ler Guimarães Rosa?

Fabiana Guimarães
Escutando o Thiago, que, por varias noites ao telefone, leu para mim Guimarães, pude mergulhar de corpo e alma na grandeza da sua maravilhosa literatura inigualavel. Não sei o que me impedia de ler, só sei que Guimarães prefiro escutar, pois só assim consigo ser enfeitiçada por ele, dessa forma, acontece como se escutasse o cantar da iara me puxando para o fundo  das doces águas. Só assim chego na outra margem do rio de Guimarães.

Antonio Filho
Querida Fabiana Guimarães, estamos chegando ao fim desta linda entrevista que você proporcionou a este humilde Mafuá do Malungo.

Fabiana Guimarães
ahhhhhhhhhhhh!

Antonio Filho
Para finalizar você gostaria de citar mais alguém tenha importância na sua trajetória literária, e/ou fazer alguma comentário final nesta primeira entrevista do Mafuá do malungo?

Fabiana Guimarães
Bem, vou falar sobre uma pessoa que talvez tenha sido a mais fundamental de todas na minha vida literária. Essa pessoa chama-se Bento Guimarães Junior que é meu revisor, e foi meu grande incentivador no inicio de tudo sem os incentivos dele talvez, ou não estivesse aqui ou teria demorado mais a estar. E também dizer da alegria por ser entrevistada por Antonio Filho, meu querido amigo que também é parte desse meu caminho e por quem nutro carinho especial, pois foi um dos que me abriu portal significativo. Gostaria de dizer também da importância de espaços como esse desse blog, o Mafuá do Malungo, para divulgar nossa cultura e arte. E, por fim, agradecer a linda oportunidade que me propiciou.

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